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24 de setembro de 2011

Os artistas gráficos nas empresas educacionais

"Droga, eu queria ser famoso!"
Ser designer, ilustrador ou diagramador em empresas educacionais é uma boa?
A resposta é: depende. Se você está procurando reconhecimento público, glamour, ser premiado ou tietado por fãs de sua arte, esqueça esse segmento. Se sua intenção é que suas "obras" sejam vistas e tagueadas nos blogs e sites especializados em design ou ilustração, posso assegurar que numa empresa educacional isso dificilmente ocorreria. A não ser é claro que você entre na empresa com uma reputação e um sucesso estabelecidos. Por exemplo, quando o Ziraldo é convidado para ilustrar uma cartilha ou uma seção de um portal educacional, ele traz não apenas sua bagagem como ilustrador, mas também seu prestigio como formador de opinião. Ele é uma celebridade e seus personagens são facilmente reconhecíveis. Mas nesses casos é o artista quem empresta sua imagem para o benefício da empresa.
Dificilmente veremos um artista gráfico iniciar sua carreira numa empresa educacional e se projetar para o mundo.
Mas levando em consideração que as empresas educacionais contratam artistas tão bons ou até melhores do que os contratados pelas melhores agências, porque não ocorre esse reconhecimento?

A resposta não é tão simples, envolve muitos fatores, mas um dos principais motivos talvez esteja no fato de que o processo criativo de um artista de empresa educacional passa por muitos filtros. Lembremos que na educação, os conceitos de "politicamente correto" ou "adequado aos jovens", são guias no processo de desenvolvimento pedagógico. Existem uma série de regras a serem seguidas. Regras que asseguram que ideias de igualdade, educação e cidadania sejam passadas aos alunos. Não podemos esquecer também que o ensino de ciências exatas deve seguir um certo rigor científico. A didática é mais forte que a liberdade artística.
Até ai tudo bem, pois a proposta é essa mesmo. Os pedagogos e professores nesse caso são nosso clientes, assim como os alunos.
O fato é que para ser um bom profissional, não quer dizer que a pessoa tem que ser reconhecida nas ruas e servir de herói para os outros. Se fama fosse competência as aberturas de algumas novelas não seriam tão difamadas. Também é fato que trabalhar numa agência não assegura melhores salários que em empresas educacionais. Isso é lenda. Isso só ocorre se o profissional for um superstar ou sócio da empresa. Eu estou cansado de ver anúncios para designers e ilustradores de agências com salários nada glamourosos.
Mas mesmo assim existe uma espécie de muro que divide esses dois mundos. Todo mundo sabe que um profissional do ramo educacional teria muito mais dificuldade em conseguir trabalho em outro ramo, especialmente no ramo publicitário. Existe um preconceito enorme das agências de comunicação em aceitar um profissional que não tenha um troféu ou que ainda não seja uma espécie de "estrela" no mundo do glamour virtual. Isso é um fato e algo que pode acabar mudando um dia, mas vai depender muito da postura e de como os artistas do setor educacional se fizerem notar. Se esconder não é uma boa prática, e apesar de não ter premiações e eventos como os famosos, o profissional deve se utilizar de todas a democracia da rede para promover seu trabalho. A Educação deve começar a ser vista com mais importância do que os setores efêmeros. É o que pode mudar um país e isso deve ser lembrado sempre em consideração na hora de criar uma ilustração ou na diagramação de um novo material educativo.
Vou dar uma dica para quem está começando: Se você dá muito mais importância ao fato de ser reconhecido e premiado do que na relevância e importância de seu trabalho para a sociedade, se você sonha em trabalhar numa grande agência de design ou propaganda e figurar nos blogs como uma celebridade, esqueça o ramo educacional. Nunca mande um currículo para uma empresa desse ramo. Depois será muito mais difícil para migrar.

Um comentário:

Adri Amaral disse...

O texto faz muito sentido, design e ilustra aplicados em materiais educacionais realmente tem um objetivo um pouco mais "nobre" que os materiais publicitários.
O lado triste desta história não é tanto a anonimidade destes profissionais perante o mercado mas sim a desvalorização interna do trabalho criativo nestas instituições.
Obviamente qualidades didáticas e pedagógicas são as prioridades em um material educacional, mas o que estas empresas não percebem é que estas características já viraram pré requisitos para satisfação dos alunos e para a sobrevivência da instituição, já é obrigação e portanto não é mais um grande fator de diferenciação no mercado.
Aí entra o papel do designer, um profissional que está na base da pirâmide, que recebe os piores salários da equipe mas que recebe a tarefa de agregar inovação, interatividade e fluidez no material. Seu trabalho imprime qualidades que interferem na experiência do aluno e automaticamente na reputação da empresa.
Cansei de ouvir que o trabalho do designer dentro da empresa não passa de "desenhinho", mas também cansei de ver materiais com conteúdo excelente que não tiveram o devido aproveitamento por não utilizarem ferramentas gráficas de interação com o aluno.